Trabalho como
princípio educativo
Origem. Et. A palavra "trabalho" vem do latim tripalium, termo formado pela junção dos elementos tri "três" e palum "madeira". Tripalium era o nome de um instrumento de tortura comum em tempos remotos na região europeia, dando ao termo "trabalhar", originalmente, o significado de "ser torturado". Naquele contexto originário, sendo voltado aos que não podiam pagar impostos, os pobres e escravos, o termo que remetia à tortura passou a também significar, por extensão, as atividades físicas produtivas realizadas pelos despossuídos. Com o passar dos séculos a palavra foi ganhando o sentido de "fazer uma atividade produtiva penosa, exaustiva, difícil", até chegar à noção de "aplicação de forças e faculdades humanas para alcançar um determinado fim". Já a palavra "princípio" vem do latim principium, “origem, causa primeira, início”. E a palavra educativo vem do latim educere, educatĭo "ação de criar, de nutrir; orientar, conduzir".
Definição
Princípios são os fundamentos centrais que constituem uma determinada racionalidade e alicerçam um certo sistema de pressupostos e práticas, estruturando-os e servindo de critério para a sua exata compreensão no que lhe confere a tônica e a coerência. Assim, ignorar um princípio é muito mais grave que desconhecer ou desprezar um conceito qualquer. A desatenção ao princípio implica a incompreensão e o agravo não apenas a uma específica ideia ou noção, mas a todo o sistema concretamente constituído. No caso do Trabalho como princípio educativo, estabelece-se a relação basilar entre o Trabalho e a Educação, em que o caráter formativo do Trabalho é fixado como ação humanizadora e essencial para o desenvolvimento de todas as potencialidades do ser humano.
Apontar o Trabalho como princípio educativo significa propôr um processo educacional fundado nuclearmente neste conceito, de onde derivam os preceitos, os desígnios, os procedimentos e as rotinas da educação. Implica igualmente que seja possível explicar, de forma clara e coerente, o sistema educativo e o processo pedagógico efetivamente realizados a partir da noção de Trabalho, reconhecendo-a como aquilo que atravessa e sustenta as atividades educacionais concretamente desenvolvidas.
O Trabalho, alçado à dimensão de princípio educativo, não quer dizer "aprender fazendo", nem é sinônimo de "formar para a execução de um trabalho". Ainda que esses aspectos façam parte do fenômeno, Trabalho é algo mais amplo e significativo que simplesmente emprego, profissão, ofício, ocupação, função, serviço, ou atividade voltada ao mercado de trabalho. Tais elementos, se fossem um princípio educativo, limitariam seriamente a educação e reduziriam as possibilidades de realização humana. Trabalho é diferente de tais coisas por significar um fenômeno ainda mais profundo, fundante na constituição do gênero humano, que as extrapola e as contém.
Trabalho significa o fenômeno pelo qual o ser humano produz sua própria existência na relação com a natureza e com os outros seres humanos, suprindo necessidades e elaborando conhecimentos. Assim, é a mediação originária entre o ser humano e a realidade material e social. É pelo Trabalho, pela intervenção intencionada no mundo, que o ser humano produz e ao mesmo tempo se apropria da realidade material e social, podendo transformá-la. O Trabalho também é histórico, pois é um processo que se desenvolve ao longo dos tempos, engendrando e sendo engendrado por específicos contextos sociais. É, nessa perspectiva, um fenômeno intimamente integrado à Educação, visto que é central para a compreensão da realidade humana, tanto em sua gênese quanto em sua existência contextual.
A Educação Profissional e Tecnológica é um sistema que possui o Trabalho como princípio educativo. Portanto, é uma modalidade educacional que parte das formas de mediação do ser humano com sua realidade material e social, abarcando tanto a compreensão do processo histórico de produção científica e tecnológica, como os conhecimentos desenvolvidos e apropriados socialmente para a transformação das condições naturais da vida e a ampliação das capacidades, das potencialidades e dos sentidos humanos. Em outras palavras, é uma forma de educar que coloca os indivíduos no processo prático-reflexivo de intervenção no mundo, visando transformá-lo de acordo com as reais necessidades humanas e com o que social e criticamente se compreende ser a emancipação da humanidade.
É válido dizer, ainda, que se trata de um processo educacional que entende os seres humanos como sujeitos de sua própria história e de sua própria realidade. Assim, visa proporcionar a compreensão das dinâmicas sócio-produtivas das sociedades modernas, com as suas conquistas e os seus revezes, além de habilitar as pessoas para o exercício autônomo e crítico de profissões, sem jamais se resumir a elas.