Omnilateralidade
Conceitos Básicos
Origem. Et. Do latim omnis "tudo, todo, total, inteiro" + latus, lateris "lado, flanco", -alis (relação de pertença), significando "de todos os lados, por todas as dimensões". O termo omnilateral (ou onilateral) ganha visibilidade e consolida o seu uso dentro da noção marxiana de formação humana. Aparece pela primeira vez nos Manuscritos Econômico-Filosóficos de Karl Marx, em 1844, quando se traduz o original alemão allseitiges Wesen como "essência omnilateral", e auf eine allseitige Art como "de uma maneira omnilateral". Remete-se, assim, o termo omnilateral ao adjetivo alemão allseitig, composto pela palavra all, que significa "todo, toda" e Seite que, entre muitos sentidos, indica "lado, página". Contudo, o termo omnilateralidade é cunhado justamente para impedir que seu significado original se confunda com multilateralidade (vários lados que se somam).
Definição
Diz respeito a qualidade de completude de um processo de formação do ser humano. Significa o caráter de um processo social de configuração do ser humano que o desenvolve em todas as suas dimensões: ética, afetiva, moral, estética, sensorial, física, intelectual, prática, técnica, científica, entre outras. Trata-se da constituição do humano pleno por um processo pleno de sua constituição.
Pode-se dizer que a omnilateralidade é a afirmação de que o processo formativo deve encontrar seu sentido no ser humano integral, rico não pela posse de coisas, mas pela apropriação total de seu próprio ser, desenvolvido socialmente pelo total cultivo de suas possibilidades, para a sua total realização. Apropriar-se de si é também apreender-se enquanto ser social, inserido no mundo da cultura, que se realiza concretamente no reconhecimento de si em seu trabalho e em sua ampla coletividade. A formação omnilateral é um referencial educacional que aponta que processos formativos mais restritivos fazem o ser humano menor, reduzido, apequenado.
Omnilateral é a formação efetivamente contrária a qualquer lógica fragmentária e instrumentalizadora do ser humano. A omnilateralidade é incompatível com a sociabilidade capitalista, que limita a existência humana à reprodução de uma ocupação profissional (coisificação do ser), aprisiona o existir humano ao exclusivo suprimento de suas carências materiais (unilateralidade da vida animal) e impede a humanidade de fruir a vida universalmente. É certo, por exemplo, que a escritora deva ganhar a vida para poder escrever e existir, mas de forma alguma ela deve existir e escrever para ganhar a vida. A omnilateralidade se opõe aos percursos formativos unilaterais, maquinais, estreitos, e alienantes, que promovem o indivíduo atomizado, isolado, autossuficiente, centrado em seu próprio interesse, especializado e em permanente competição com os demais. O processo formativo omnilateral depende da relação entre o ser humano livre e a natureza humanizada (ou seja, a natureza transformada pelo seu trabalho) e das relações que os seres humanos livres estabelecem entre si, pois o ser humano é o seu processo efetivo de vida. Nesse sentido, embora inviável em uma sociedade capitalista, a omnilateralidade é uma trilha profícua a apontar horizontes pedagógicos possíveis e emancipatórios.