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Alienação do Trabalho

Origem. Et. A palavra alienação vem do latim alienatĭo, -ōnis indicando a ação de "estranhar, afastar-se, perder estima, transferir algo para outrem", do adjetivo latino alienus "estranho, alheio, pertencente a um outro" e este, por sua vez, do pronome indefinido alius (em grego állos, ἄλλον) "um outro". A palavra "trabalho" vem do latim tripalium, termo formado pela junção dos elementos tri "três" e palum "madeira". Tripalium era o nome de um instrumento de tortura comum em tempos remotos na região europeia, dando ao termo "trabalhar", originalmente, o significado de "ser torturado". Naquele contexto originário, sendo voltado aos que não podiam pagar impostos, os pobres e escravos, o termo que remetia à tortura passou a também significar, por extensão, as atividades físicas produtivas realizadas pelos despossuídos. Com o passar dos séculos a palavra foi ganhando o sentido de "fazer uma atividade produtiva penosa, exaustiva, difícil", até chegar à noção de "aplicação de forças e faculdades humanas para alcançar um determinado fim". O conceito de Alienação do Trabalho é formulado por Karl Marx em seus Manuscritos Econômico Filosóficos de 1844. Em alemão, para significar "alienação" e "estranhamento" são usadas as palavras Entäusserung (que vem de äußer, do alto alemão antigo ūʒar, "fora", significando o interior que é posto no exterior, o independentizado, coisificado) e Entfremdung (que vem de fremd, "alheio", significando o que vem de outro, o estranho, desconhecido, estrangeiro).  Para significar trabalho, o alemão se vale da palavra Arbeit, do alto alemão antigo arapeit, "labuta, sofrimento por necessidade".

Definição

Conceitos Básicos

Palavras relacionadas:

Mundo do Trabalho

Omnilateralidade

Trabalho como

princípio pedagógico

Para saber mais:

Vídeo: Alienação e Trabalho - prof. Ricardo Antunes

É um fenômeno complexo, multifacetado e semanticamente abrangente. De modo genérico, significa a perda do Trabalho como o meio no qual o ser humano constitui o mundo e a si mesmo. Exprime o distanciamento do ser humano da relação ativa de compreender, interferir e colocar-se concretamente no mundo para intencionalmente tranformá-lo, satisfazer e superar suas necessidades. Trata-se do processo pelo qual a atividade humana produtiva ou o produto dessa atividade ou o próprio ser humano torna-se um outro diferente daquilo que coincide com o seu real ser, resultando na perda de reconhecimento e pertencimento humano à realidade, ou mesmo, no afastamento do ser humano em relação à sua própria natureza. Ou seja, é o estranhamento do Trabalho enquanto canal de humanização do ser humano e de seu mundo, enquanto seu meio de autorrealização e liberdade. Essa dissociação do ser humano em relação à natureza da atividade laborativa, ocorre quando há a submissão de um ser humano em relação a outro ou quando um ser humano vende a outro a sua força de trabalho (como no sistema capitalista), fazendo com que o trabalho não seja mais expressão do poder humano diante da vida, mas algo alheio a si mesmo, algo imposto por outrem, algo que existe fora da vontade do ser humano que o atua.

Fenômeno amplo, a Alienação do Trabalho se manifesta individual e socialmente em todos os âmbitos da vida, sendo a um só tempo um acontecimento jurídico, político, econômico, social, cultural, estético, psíquico, que alcança até mesmo a relação do indivíduo com seu próprio corpo. É possível explicar a Alienação do Trabalho em quatro dimensões: i) a alienação de quem trabalha em relação ao produto de seu trabalho, quando o trabalhador ou a trabalhadora não se reconhece no resultado final de seu esforço produtivo ou quando esse resultado pertence a outra pessoa; ii) a alienação da atividade produtiva, quando essa atividade deixa de ser realização e passa a ser sofrimento humano, deixa de acontecer para satisfazer necessidades e ampliar a liberdade humana diante da vida e se faz para atender interesses alheios, como atividade imposta a uma sobrevivência estritamente animal; iii) a alienação do sujeito enquanto pertencente à humanidade, quando ocorre a coisificação do ser humano e este se distancia de sua multipotencialidade e dignidade, degradando-se em mercadoria, instrumento unilateral, indivíduo isolado e atomístico; iv) a alienação dos seres humanos entre si, quando os outros seres humanos também são tratados como coisas individualizadas, de acordo com valor de troca e utilidade, e as relações humanas se tornam relações meramente mercantis que se consolidam no antagonismo e na concorrência.

A Alienação do trabalho designa a deturpação do trabalho e, por consequência, a desfiguração do ser humano, pois a atividade laborativa se torna oposta à sua própria natureza, algo contrário ao desenvolvimento das potencialidades humanas, uma forma corrupta de objetivação humana, na qual o ser humano atua, compreende e se coloca no mundo de uma maneira que não possibilita a sua emancipação. A Educação, nesse sentido, faz-se um processo fundamental tanto para a manutenção da estrutura social vigente quanto para uma possível transformação das relações humanas. Onde o indivíduo é mercadoria e o ser humano é recurso a ser utilizado, constrói-se uma relação educativa alienadora, uma relação com a vida e com a compreensão do mundo apequenada, limitadora, mesquinha, naturalizadora de artificialidades, pois o desenvolvimento integral e verdadeiramente humano é inviabilizado. Uma educação que promova o conhecimento desnaturalizado da realidade social e a reflexão crítica acerca do mundo produzido pela humanidade é uma educação potencialmente transformadora. Por isso, a Educação deve considerar que é no Trabalho, ou seja, na interação intencionada do ser humano com a natureza, visando a própria existência livre, que esse ser se constitui, sendo basilar o vínculo entre ensino e trabalho produtivo para um processo formativo comprometido com humanidade e a sua desalienação.

Referências Bibliográficas

BOBBIO, N.; MATTEUCI, N.; PASQUINO, G. Dicionário de política. 12. ed. Brasília: UNB, 2004.

MARX, K. Manuscritos econômicos filosóficos. São Paulo: Boitempo, 2004.

MÉSZÁROS, I. Marx: a teoria da alienação. São Paulo: Boitempo, 2017.

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